A chegada do craque brasileiro Neymar ao Paris Saint-Germain, vindo do Barcelona, causou um terremoto no mercado de transferências em 2017, mas a justiça francesa investiga agora a contratação mais cara da história do futebol por supostos favores fiscais.

Na segunda-feira (15) os investigadores realizaram buscas no Ministério das Finanças, na presença de dois juízes de instrução, no âmbito de um caso "ligado ao PSG por corrupção e tráfico de influência", disse uma fonte judicial à AFP.

A operação, revelada nesta quinta-feira (18) pelo meio Mediapart, fazem parte de uma investigação iniciada em setembro de 2022 sobre as táticas de influência atribuídas ao ex-diretor de comunicação do clube parisiense, Jean-Martial Ribes, de 57 anos.

Ribes, acusado no dia 1º de dezembro de uma série de crimes, é suspeito de ter usado seu cargo para obter informações sigilosas do PSG, em troca de presentes como ingressos para jogos do clube da capital.

A Justiça questiona se Hugues Renson, ex-deputado da aliança do presidente francês Emmanuel Macron, tentou obter "vantagens fiscais" para o PSG, presidido pelo empresário catari Nasser Al Khelaifi, durante a transferência de Neymar do Barcelona para o clube francês.

A operação de 222 milhões de euros (cerca de R$ 1,18 bilhão na cotação atual) é até hoje a mais cara da história do futebol. Na época, a imprensa francesa fez críticas por seu "excesso". 

A chegada de Neymar ao PSG, depois dos fracassos na Liga dos Campeões, também foi percebida como um golpe de comunicação para o Catar, que lhe permitiu aumentar a sua visibilidade no mundo e o seu "soft power" através do esporte. 

Em agosto de 2023, o atacante brasileiro de 31 anos encerrou a sua aventura parisiense, depois de anos marcados por lesões e problemas extra-desportivos, e partiu rumo ao clube saudita Al Hilal. Em outubro, ele machucou gravemente o joelho e ficará afastado por vários meses.

Benefícios 

A operação de segunda-feira se concentrou nos serviços da Direção-Geral das Finanças Públicas (DGFIP), dirigida até recentemente por Jérôme Fournel, atual diretor de gabinete do ministro do ramo Bruno Le Maire.

Em um relatório enviado em 21 de novembro para um juiz de instrução, consultado pela AFP, os investigadores indicam um possível "tráfico de influências" por parte de Renson, crime punível com até 10 anos de prisão.

Segundo esse informe, que analisa dez anos de mensagens telefônicas, Ribes pediu, "sem espaço para dúvidas (...) os serviços" de Renson.

Em contrapartida, Renson, que hoje trabalha na companhia elétrica EDF, "se beneficiou com inúmeros ingressos para jogos" do PSG, assim como outras vantagens, também no período em que foi deputado (2017-2002).

Em 24 de julho de 2017, Renson, que foi também vice-presidente da Assembleia Nacional, afirma que levou uma "questão do PSG" - possivelmente a supervisão da transferência - para Gérald Darmanin, então ministro das Contas Públicas e atual ministro do Interior.

Darmanin, figura de destaque no governo atual, "considera que está tudo bem (...) O que importa é que sejam apresentados os documentos que mencionamos", escreveu Renson a Ribes.

Em seguida, o ministro comemorou publicamente "os impostos que Neymar [poderá] pagar na França" e garantiu que seus serviços analisariam a configuração financeira da transferência.

No dia 3 de agosto de 2017, o acordo histórico foi alcançado e anunciado.

Um dia depois, "Renson agradece Ribes", segundo o relatório, se referindo aos seus filhos que acompanharam os jogadores do PSG antes de uma partida no Parque dos Príncipes.

Segundo uma fonte próxima à negociação, "não há nada de errado em uma empresa abordar um governo para discutir o tratamento tributário de uma transação importante".