Cristiano Ronaldo participa de entrevista coletiva durante a Eurocopa

Quando o português Cristiano Ronaldo retirou duas garrafas da marca de refrigerante mais consumida do mundo da bancada onde concedia uma entrevista coletiva, gesto repetido pelo francês Pogba, mas com uma cerveja, a atitude dos dois jogadores impactou diretamente o mundo do marketing, além de levantar questões sobre a compreensão por parte dos atletas em relação ao alcance de seus atos.

Quando a estrela da seleção de Portugal e da Juventus fala, o mundo o escuta. O atacante não só tem um dos mais brilhantes recordes da história do futebol com a sua coleção impressionante de títulos, troféus, recordes e gols, como também é incomparável nas redes sociais. 

Em fevereiro, o cinco vezes vencedor da Bola de Ouro se tornou a primeira personalidade do mundo a ultrapassar a cifra astronômica de 500 milhões de seguidores nas principais redes sociais. 

Quando o jogador de 36 anos decide passar uma mensagem, como no início da semana numa conferência de imprensa, retirando duas garrafas de Coca-Cola colocadas à sua frente pelos organizadores da Eurocopa, para as afastá-las do campo visual das câmeras de televisão, o detalhe não passa despercebido. Até porque a estrela portuguesa não consome alimentos açucarados na sua dieta  para preservar o seu físico invejável. Além disso, apoiou o seu gesto com palavras devastadoras para a marca de refrigerante: “Beba água”. 

Um dia depois, foi outro patrocinador da competição europeia e da Uefa, Heineken, que teve um dia ruim, fruto do gesto do campeão mundial francês Paul Pogba, que retirou uma garrafa de cerveja sem álcool de sua mesa, novamente numa conferência de imprensa . 

Talvez esperassem tanta repercussão nas redes sociais e na imprensa, mas Cristiano Ronaldo e Pogba têm grandes qualidades na hora de gerir suas imagens.

- Nova forma de ativismo -

"Cada vez mais os atletas procuram se associar a produtos e marcas que estejam de acordo com sua própria marca e seus valores”, analisa para a AFP Simon Chadwick, diretor de esportes da Emlyon Business School. 

“O que Cristiano Ronaldo, que no passado fez anúncios da Pepsi e representou a Coca-Cola na China nos anos 2000, diz é: 'Como indivíduo, tenho o direito de mudar o que fazia no passado", continuou. 

Para Simon Chadwick, é uma nova forma de ativismo. “Seja na internet ou no mundo real, quando há algo na sua frente que você não gosta e que não combina com você, você simplesmente remove”, explica. 

Mas poderia esse gesto causar uma queda de quatro bilhões de dólares no valor das ações da Coca-Cola, como alguns afirmam?

- 'Rápido demais' -

Para as marcas afetadas "provavelmente haverá impactos diferentes, mas ainda é muito cedo para estabelecê-los", disse Bertrand Chovet, CEO da Brand Finance France. 

“A colocação de produtos deve ser um pouco mais cuidadosa, mas os jogadores se beneficiam desses patrocinadores, então é um pouco contraditório”, afirma. 

Embora a Coca-Cola e a Heineken, questionadas pela AFP, não tenham dado uma resposta neste momento, a Uefa recordou nesta quinta-feira que "as contribuições destes patrocinadores são importantes para o torneio e para o futebol europeu", afirmou o diretor da Eurocopa, Martin Kallen. 

As duas marcas são as maiores patrocinadoras da competição europeia, segundo o escritório KPMG, que estima o valor do contrato da Heineken em 45 milhões de dólares (38 milhões de euros) e o da Coca-Cola em 35 milhões de dólares (29 milhões de euros). 

Mas a Uefa não pensa em punir Cristiano Ronaldo ou Pogba: "Temos um regulamento aprovado pelas federações que participam (da Eurocopa), estamos em contato com elas e lembramos as suas obrigações", acrescentou. 

Enquanto aguardam as próximas coletivas dos dois jogadores, seus colegas menos conhecidos aderiram à tendência de mudar suas posições de bebidas na frente dos microfones, como o ucraniano Andreiy Yarmolenko na quinta-feira após a vitória sobre a Macedônia do Norte (2-1 ).

 "Eu vi o Cristiano Ronaldo", sorriu, antes de se aproximar das duas garrafas de Coca-Cola e da cerveja, e dizer para os patrocinadores: "Falem comigo!"