A Anistia Internacional pediu novamente nesta sexta-feira (11), em uma coluna publicada no jornal francês Le Monde, que o presidente da FIFA, Gianni Infantino, atribua uma indenização financeira aos trabalhadores migrantes que construíram os estádios da Copa do Mundo no Catar.

Nove dias antes do início do torneio, a ONG renova um pedido que já havia feito em maio junto com outras 24 ONGs, como a Human Rights Watch, para reparar os "abusos" sofridos, segundo eles, principalmente pelos trabalhadores procedentes do subcontinente indiano e da África.

"Em meio a essa indignação crescente, a voz mais crucial de todas ficou notavelmente silenciosa: a de Gianni Infantino", disse Agnès Callamard, secretária-geral da Anistia Internacional.

"Apesar das garantias privadas e públicas da FIFA, que alegou 'estudar a proposta', Gianni Infantino tem evitado constantemente o assunto, tirando algumas banalidades. Ele ainda não respondeu à nossa carta conjunta", continua ela.

Recentemente, o presidente da FIFA alimentou o descontentamento das associações de direitos humanos ao instar as 32 nações participantes do torneio a "focar no futebol", em uma carta cujo conteúdo foi revelado pela Sky News em 4 de novembro. Infantino também pediu às equipes "que não deem mais lições de moral".

Em foco desde 2010

Embora Agnès Callamard aponte que Infantino "liderou uma notável mudança na abordagem do órgão dirigente do futebol mundial em termos de direitos humanos", ela descreve o pedido do ítalo-suíço como "uma tentativa grosseira de exonerar a FIFA de suas responsabilidades nestas violações dos direitos humanos e dos trabalhadores".

Desde 2010, em sua escolha como sede da Copa do Mundo de 2022, o Catar tem sido foco de organizações de direitos humanos, especialmente pelas condições de trabalho na infraestrutura do torneio, como estádios, hotéis, estradas, e pela situação das minorias sexuais.

O país é acusado de não ter declarado todas as mortes ocorridas nos canteiros de obras e de não ter feito nada para melhorar a situação dos trabalhadores.

Muitos trabalhadores queixaram-se de más condições, desde trabalho forçado, horas trabalhadas, mas não pagas, até quantidade insuficiente de dias de descanso.

Alguns patrocinadores da Copa do Mundo como Adidas, Coca-Cola e McDonald's apoiaram o primeiro apelo das 25 ONGs, e o time de futebol australiano denunciou em vídeo os maus-tratos aos trabalhadores que construíram ou reformaram os oito estádios em que a Copa do Mundo será disputada.

Questionada pela AFP, a FIFA lembrou que "as medidas para garantir a saúde e o bem-estar dos trabalhadores (que trabalhavam nos canteiros de obras) na Copa do Mundo foram prioritárias".