Habituada a não passar das oitavas de final na Copa do Mundo, a seleção do México de Tata Martino quer se livrar no Catar da "maldição" que a impede de chegar ao quinto jogo, feito que ocorreu apenas uma vez, na edição em casa de 1986.

O roteiro parece certo: vão bem na fase de grupos, mas quando chegam às oitavas de final, as falhas aparecem de diferentes formas: más cobranças de pênaltis, incapacidade de lidar com vantagens, decisões técnicas errôneas, golaços de rivais.

Desde a Itália em 1990, já são sete edições seguidas do Mundial vendo a eliminação na mesma altura do campeonato.

"Nos Estados Unidos, em 1994, quando fomos para os pênaltis (contra a Bulgária), ninguém pensava que Alberto García Aspe (um cobrador muito confiável) iria falhar”, lembrou Raúl Gutiérrez, zagueiro daquela equipe. Na ocasião, três mexicanos perderam suas cobranças.

Na edição de 1998, na França, o defensor Joel Sánchez relembra que a situação também foi complicada.

"O único jogo que começamos ganhando foram as oitavas de final contra a Alemanha. Estávamos dominando um time candidato (ao título) que nos superou em jogadas pouco claras depois que perdemos três chances de gol", disse.

Já em 2006, "poderíamos ter vencido os argentinos", afirmou o meio-campista Gerardo Torrado, mas "o gol de Maxi Rodríguez foi um chute extraordinário, um belo gol" que acabou levando à eliminação do México.

E assim, a cada quatro anos, o drama alimenta o tabu da das oitavas de final.

- Estigma para o México -  

O argentino Ricardo La Volpe, que comandou a seleção mexicana na edição de 2006, fez uma promessa de que levaria a equipe ao quinto jogo da competição, mas acabou falhando e a promessa se tornou um carma para o México.

"Essa coisa do quinto jogo se tornou um estigma para o México", considera Fernando Schwartz, jornalista mexicano que cobre Copas do Mundo desde 1978.

"Afeta muito porque os torcedores ficam decepcionados se eles não chegam ao quinto jogo, a imprensa começa a criticar e os jogadores carregam uma pressão que até pode corresponder aos que vieram de ciclos anteriores, mas não para os que estão em sua primeira Copa do Mundo", acrescentou.

No México, se diz que "não há doença que dure cem anos ou um paciente que sofra com isso", mas a seleção do país que vai ao Catar conta com dois jogadores que sofreram quatro dessas sete eliminações na primeira fase: o goleiro Guillermo Ochoa e o meio-campista Andrés Guardado.

Proibido ficar obcecado

"O que todos queremos é jogar o famoso quinto jogo", admitiu Gerardo ‘Tata’ Martino quando assumiu o comando técnico do México, em janeiro de 2019.

No Catar, o time de Martino integrará o Grupo C ao lado de Polônia, Argentina e Arábia Saudita, e chegará com um problema muito conhecido.

"O México não marcou gols nos últimos jogos, criou muito pouco e isso é altamente preocupante", disse Félix Fernández, ex-goleiro mexicano que esteve na Copa de 1994 e atualmente comentarista de televisão.

Para Fernández, um grande erro que a seleção pode cometer é começar o Mundial carregando a frustração das últimas sete edições. "Não deveríamos ficar obcecados com as quartas de final ou o chamado quinto jogo. Deveríamos pensar jogo após jogo".

Fernández e Schwartz concordam que, para chegar ao quinto jogo, o México deve ganhar o primeiro contra a Polônia, no dia 22 de novembro.

"Para transcender, o importante é ganhar o primeiro jogo contra a Polônia porque, se não ganhar, as chances em um torneio tão curto como o Mundial serão reduzidas", comentou Schwartz.

Sobre essa estreia, Fernández considerou que "enquanto o México tem um bom funcionamento, mas marca poucos gols, a Polônia tem mau funcionamento, mas tem um dos melhores atacantes do mundo: Robert Lewandowski".

Nesse passo a passo, depois dos poloneses a Argentina será adversária do México, e Fernando Schwartz que o time pode conseguir nesse jogo sua vaga nas oitavas de final.

"Mesmo que todo mundo diga que a Argentina vai golear, eu sou um dos que acredita que o México tem chance".

Caso o México passe da fase de grupos, nas oitavas de final "o cruzamento vai ser complicadíssimo, pois pode ser contra a França, uma das favoritas", antecipou Félix Fernández.

Se os mexicanos chegarem às oitavas pela oitava vez seguida, as sete lições anteriores devem ser aproveitadas. "O que deve fazer a seleção mexicana?", pergunta Schwartz, que em seguida responde: "Aproveitar o Mundial, esquecer toda a pressão externa e, principalmente, não cometer erros que custam caro no Mundial".