Foto de arquivo tirada em 14 de março de 2021 de uma homnagem ao falecido astro Diego Maradona, no estádio de La Bombonera, em Buenos Aires

A psiquiatra Agustina Cosachov rejeitou nesta sexta-feira (25) as acusações contra ela pela morte de Diego Maradona e afirmou que o ídolo argentino, que morreu após uma crise cardiorrespiratória, não recebia medicamentos para o coração porque não apresentava sintomas de doença cardíaca, declarou seu advogado.

Cosachov, de 36 anos, respondeu por mais de seis horas a perguntas da Promotoria de San Isidro, 25 quilômetros ao norte de Buenos Aires, e apresentou um documento volumoso antes de se retirar sem falar com a imprensa, apurou a AFP.

O Ministério Público a investiga junto com outros seis membros da equipe médica que tratou de Maradona em uma casa na periferia de Buenos Aires, onde o ex-jogador se recuperava de uma cirurgia na cabeça, quando morreu em 25 de novembro de 2020 aos 60 anos após agonizar por horas, de acordo com laudo pericial.

“A patologia cardíaca encontrada na autópsia não apresentou sintomas no paciente em vida, por isso nas clínicas onde ele foi internado não estava medicado para esse fim. Quando saiu da clínica de Olivos (de onde retiraram um hematoma na cabeça) seu coração estava funcionando bem", relatou o advogado Vadim Mischanchuk à imprensa.

Cosachov foi a sexta dos sete investigados a depôr. Na segunda-feira, as investigações serão encerradas por Leopoldo Luque, neurocirurgião e médico de família de Maradona, o principal suspeito da investigação.

Todos são suspeitos de “homicídio doloso”, crime punível com pena de oito a 25 anos de prisão e que se refere a quem não muda de atitude ou comportamento apesar de saber que pode haver um desfecho fatal da situação.

“A médica forneceu provas de que não cometeu homicídio (...) Não há suspeita de dizer que a medicação psiquiátrica (que Cosachov prescreveu) e nessas doses pode ter causado uma deficiência no coração”, continuou Mischanchuk.

Cosachov, especialista em dependência química, dividia com o neurocirurgião Luque (39) a maior responsabilidade pela saúde do ex-astro da seleção argentina, de acordo com o processo judicial.

Em 25 de novembro de 2020, a psiquiatra e o psicólogo Carlos Díaz, de 29 anos, encontraram Maradona sem vida em sua cama.

Maradona morreu aos 60 anos de crise cardiorrespiratória, sozinho e "abandonado à própria sorte", após uma "agonia de 12 horas", em seu quarto em uma residência alugada ao norte de Buenos Aires, segundo o relatório de uma comissão de 20 especialistas forenses.

O astro, admirado por milhões de fãs ao redor do mundo, morreu convalescendo de uma neurocirurgia à qual havia se submetido 21 dias antes.

- Internação domiciliar -

“O verdadeiro centro desta investigação tem que estar em saber o que aconteceu na internação domiciliar e se foi cumprido como havia sido acordado ou houve alguma deficiência e se foi isso que causou a morte de Maradona. E então se verá se houve responsabilidade criminal”, afirmou o advogado da psiquiatra.

Assim como o psicólogo Díaz, a psiquiatra considera que Maradona não apresentava, "do ponto de vista da saúde mental, a exigência de internação em clínica psiquiátrica".

A casa carecia de equipamentos médicos e confortos para uma internação domiciliar, segundo as enfermeiras já interrogadas.

- Investigados -

Outro suspeito, o enfermeiro Ricardo Omar Almirón (37 anos) e cuidador noturno de Maradona, declarou que seus superiores o haviam ordenado a "não incomodar o paciente".

Os promotores detectaram "falsidades" nos relatórios de saúde diários. Afirmaram que os réus não cumpriram com o seu dever "sabendo da delicada situação (de Maradona) e sabendo que tal omissão muito provavelmente teria um desfecho fatal".

Os promotores qualificaram o tratamento do ex-jogador de futebol de "inadequado, deficiente e imprudente".

O psicólogo Díaz negou que houvesse um plano para matar o ex-jogador de futebol. “Ele estava se recuperando. Meu trabalho não interferiu no desfecho fatal”, se defendeu.

Outra investigada, a coordenadora médica Nancy Forlini, de 52 anos, apontou Luque e Cosachov como os principais responsáveis pela saúde de Maradona. "Nunca tive acesso ao histórico médico", afirmou.

Já o coordenador de enfermagem Mariano Perroni (40), que também é investigado, afirmou: “Não tenho responsabilidade. Dependíamos da decisão dos médicos”.

Em 30 de outubro de 2020, Maradona fez sua última aparição pública, com a saúde debilitada. Foi na comemoração de seu 60º aniversário no estádio do Gimnasia La Plata, cuja equipe treinava.

Em um processo que pode levar anos, o próximo passo será dado por um juiz para decidir se deve prosseguir com a acusação e iniciar um julgamento.